Apesar de a urgência e prioridade das ações estarem focadas, agora, na resposta às necessidades dos pacientes com COVID-19, é essencial estar ciente de que o horizonte de resposta não termina com a crise, mas continuará além do momento em que estiver finalizada. Portanto, é necessário planejar as ações de gestão do pós-crise. Isso inclui organizar, planejar, programar e coordenar toda a assistência e procedimentos não urgentes que foram adiados durante a crise e que, até então, se acumularão junto com as novas demandas que ocorrerão espontaneamente. Também será necessário estabelecer os mecanismos adequados para dar uma resposta eficaz, das instituições de saúde, às consequências emocionais que esta crise deve deixar em grande parte dos profissionais de saúde e apoiar o trabalho de saúde que hoje está na linha de frente da luta contra a pandemia.

Em comparação com outras situações traumáticas individuais, o fato de ser uma experiência coletiva, em nível global, possa contribuir para resiliência, recuperação emocional e assimilação adaptativa da experiência, não se devem subestimar as consequências que essa situação crítica prolongada pode provocar em profissionais diretamente expostos a ela. A sobrecarga emocional atual, produz um alto volume de reações e sintomas emocionais e de ansiedade, incluindo estresse pós-traumático nos 3 meses após a superação da atual crise de saúde, estimado entre os profissionais de saúde (segundas vítimas) de 10 e 15% da equipe de serviços críticos (Cuidados Críticos e Reanimação, Medicina Interna, Pneumologia e Doenças Infecciosas), com maior prevalência em enfermagem - segundo os estudos realizados em Hunan e Wuhan (China).

A equipe de Susan Scott da University of Missouri Health Care (MUHC) desenvolveu o Modelo de Suporte em Três Níveis para responder às necessidades emocionais dos profissionais de saúde envolvidos em incidentes de segurança para pacientes (segundas vítimas). Essa proposta, acompanhada de um programa de apoio específico, pode ser convenientemente transferida para a crise emocional entre profissionais de instituições de saúde, causada pelas condições adversas de atendimento de pacientes com COVID-19 e o número e condições de óbitos. Se constitui de três níveis de apoio, de crescente especialização, com base na assistência ponto a ponto (que facilita a identificação entre aquele que oferece o apoio e o profissional) e que, portanto, não requer a contratação de pessoal externo. Uma equipe voluntária e treinada especificamente para essas situações forma o segundo nível de apoio, que, por sua vez, está conectado à rede de referência especializada, composta por profissionais de Saúde Mental, para atender às necessidades dos profissionais que não possam ser resolvidas em níveis mais baixos de suporte.

Se um programa desse tipo puder ser desenvolvido, implementado e mantido no centro de referência, será de especial ajuda durante o período pós-crise que se seguirá à pandemia de SARS-CoV-2, mas também para enfrentar futuras crises com o potencial de provocar respostas ao estresse agudo e aos distúrbios emocionais em profissionais de saúde.

O infográfico a seguir mostra o esquema do MODELO DE SCOTT ET AL. (2010):